Mais ou menos juntas no piso de concreto? Fatores determinantes para a escolha
Sempre haverá argumentos para defender os pisos com maior ou menor número de juntas, em função de custos de implantação, frequência de manutenções de juntas e dos equipamentos, aspectos visuais e segurança quanto aos carregamentos e utilização.
Estas discussões começam pelas condições de apoio das placas – pequenas ou grandes – quais os tipos de solo do local e níveis de água do lençol freático.
Há solos de comportamentos que comprometem muito os pisos, como exemplo camadas de solos orgânicos, frações de argilas expansivas ou colapsíveis, e algumas mais graves como vazios causados por infiltrações em calcários (como nas cavernas de Cajamar ou de Minas Gerais), ou ainda de formações de formigueiros ou cupinzeiros.
Usualmente as sondagens de simples reconhecimento não indicam tais ocorrências, mas elas interferem muito na estabilidade dos pisos.
Não citamos aqui as situações mais dramáticas, como os pisos não estaqueados sobre argilas marinhas, sendo este sempre um caso a parte.
Pisos com placas pequenas
Vantagens
a) menores deformações entre placas, pois trabalham articuladas.
b) facilidade de intervenção, pois podem ser alteradas placas sem interferência nas demais.
c) muito menor movimentação das aberturas de juntas, tanto na fase de retração da hidratação do cimento do concreto, como nas alterações de temperatura e umidade ao longo do tempo.
d) juntas de menor abertura interferem menos no trânsito das empilhadeiras.
e) facilitam a distribuição de cargas pontuais – funcionam como sapatas isoladas, se as juntas forem bem distribuídas em função do layout.
f) possibilitam a interrupção de concretagem em várias posições, transformando juntas serradas em juntas de construção.
Desvantagens
a) exigem muito maior número de barras de transferência entre placas.
b) muito maior comprimento de juntas a tratar após a execução e inspecionar ao longo da vida útil.
c) são mais sensíveis nas mudanças de layout, em especial na fixação de estantes com chumbadores.
Pisos com placas grandes
Vantagens
a) menores movimentações de cotas nos solos não homogêneos, ou seja, recalque mais homogêneo e distribuído.
b) se projetadas como protendidas funcionam como laje em pontos de menor capacidade de suporte do solo.
c) menor número de juntas a tratar e inspecionar, podendo justificar o uso de juntas de maior custo e qualidade, como as juntas metálicas senoidais por exemplo.
d) facilitam as mudanças de layout das instalações logísticas.
Desvantagens
a) no caso de mudança de layout industrial precisam de projetos especiais de intervenção para instalações
b) exigem grande planejamento e logística de execução, pois não aceitam paralizações de concretagem
c) juntas são de grandes dimensões em termos de abertura e de movimentação nas alterações climáticas – dilatação e contração proporcional ao tamanho entre juntas
d) reparos nas placas, quando surgem patologias, são de grandes dimensões e maior impacto visual.
Conclusões
- Não há uma orientação única para esta decisão. Uma obra pode ser diferente da outra, pois as necessidades e logística de execução e de uso são determinantes para a escolha.
- Há tendências sazonais para uma direção ou para a outra, que se consolidam ou se alteram em função do desempenho apresentado ao longo do tempo.
- Culturas regionais pesam na decisão, assim como dos agentes de decisão do processo no momento da obra – exemplo são a cultura americana de placas de menores dimensões em oposição a europeia de placas maiores, em especial do sistema protendido.
- Pisos de câmaras frias exigem menor número de juntas para impedir infiltração de líquidos e seu congelamento.
- Pisos de industriais alimentícias, farmacêuticas e similares preferem placas maiores para reduzir os riscos de locais de proliferação de bactérias, fungos e parasitas.
- O estudo do concreto, com suas adições e aditivos, evoluem para um maior controle da retração por hidratação do cimento, possibilitando placas maiores e menos juntas.
- Pisos expostos a agentes externos e intemperismo são mais sensíveis as variações dimensionais e exigem mais juntas para sua acomodação.
Referências
ANAPRE, Associação Nacional de Pisos e Revestimentos de Alto Desempenho – Novas Recomendações Técnicas sobre Fibras, São Paulo, 2012.
Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 6118: Projeto e Execução de Obras de Concreto Armado – procedimento. ABNT: Rio de Janeiro.
Bina, Paulo, et al – Estado da Arte dos Pisos Industriais e Pavimentos: do Sistema de Damas ao Protendido, 44º Congresso Brasileiro do Concreto 2002.
Bina, Paulo – Pisos Industriais e Pavimentos com Fibras: O desenvolvimento e o Futuro, Concreto e Construções Ibracon n. 56 – 2009